junho 18, 2005

Nota de Edição

Para a semana vou lançar um livro de poesia, "Pena que Sangra", através da Corpos Editora. Darei mais informações à medida que as tiver, mas para já posso adiantar que a gráfica já terminou a impressão do livro.

Em princípio o livro poderá depois ser encontrado através da FNAC, por exemplo.

Prometeu

maio 13, 2005

Sentimentos cruzados

Amo demasiado
Aquilo que não posso ter
Adoro demasiado
A felicidade que não posso alcançar

Sinto a falta
Do que não tive
Desejo o que não existe
Enquanto durmo acordada

Perco-me
Em mim própria
Encontro-me
Fora de mim

Cruzo-me com a verdade
Numa mentira escondida
Sou iluminada
Por uma luz que não brilha

Sou uma guerreira
No meio do nada
Estou só
No meio de uma multidão

O vento toca-me
No corpo que não tenho
Os meus olhos vêem
Somente o que não existe

Destruo o indestrutível
Junto os cacos intactos
Do todo que se estilhaça
E rasga o que não sou

Agarro sem mãos
Uma concha vazia
Oiço uma melodia sem som
Que me lembra o nada

O fogo que me queima
Faz-me sentir frio...
A água que bebo
Evapora a que ainda me resta

Minto a verdade
Oiço sem ouvidos
Sinto sem tacto
Olho o que não vejo

Saboreio o vazio
Amo o nada
Vibro a melancolia
Afogo-me sem mar

Encontrei na vida a Morte
Na salvação o Desespero
E no amor o Sofrimento
Mas em mim..só te encontro a ti..

abril 30, 2005

Lágrimas

Sinto-as...
Invadindo meus olhos,
Turvando tua doce imagem
Que de mim se afasta

Sinto-as...
Escorrendo, solitárias,
Trilhando minha face
Como tantas outras vezes.

Sinto-as...
Distorcendo meus pensamentos,
Trazendo-me à mente
Estranhos e obscuros presságios.

Sinto-as...
Dilacerando meus sonhos...
Aqueles em que partilho contigo
Um futuro de mil sorrisos

Sinto-as...
Estilhaçando meu coração,
Culpando-me da paixão
Que nutro por ti...

Sinto-as...
Quebrando os pesados grilhões
Que mantêm segura
A minha insanidade sem cura

Sinto-as...
Tornarem-se mais fortes
A cada passo que dás
Sem olhar para trás

Sinto-as...
Recordar felizes momentos
Que passámos juntos,
Antes deste triste luto.

Sinto-as...
Questionando-se...
“Porque partes?”
“Porque me deixas?”

Sinto-as...
Guardando apenas memórias
Como se elas pudessem fugir
Atrás de ti...

Sinto-as...
A querer gritar...
A suplicar
Para que possas voltar

Sinto-as...
A reter nelas
A triste emoção
De chorar sem razão

Sinto-as...
Tolas,
A cair desalmadamente
Apenas por temerem...

Sinto-as...
Sem as sentir...
Sinto-as...
Dentro de mim...

São apenas o triste reflexo
Do meu medo sem nexo
De que um dia possas fugir
E meu coração partir.

São a triste realidade
De uma alma abandonada
Que apenas teus lábios quer beijar
Apenas a ti quer amar.

Sempre que te afastas
Levas contigo
A melhor parte de mim...
A parte que é feliz.

Só contigo faço sentido
Só a ti mostro meu sorriso,
Longe de toda a dor,
Admirando teu esplendor.

Sinto-as...
A sorrir...
Pois sei que não vais partir,
Que de mim não te vais despedir.

Sinto-as...
Renovadas de esperança
Que nossos lábios um dia possam
Forjar nova aliança

Sinto-as...
Saudosas de teu abraço,
Do carinho de tuas palavras
Que guardo como sagradas.

Sinto-as...
Estas minhas lágrimas
Que são como uma parte
Que de mim quer fugir
Para te seguir
E nunca mais te ver partir...

abril 21, 2005

Sem pausa até ao fim

Intensamente povoado
de negros desejos
e de mortais ensejos
de morte e destruição
que viro contra o espelho
procurando na minha reflexão
odiar o reflexo claro
que sinto ser uma miragem
ou uma qualquer ilusão
que me atormenta
sem conter em si verdade alguma
ou qualquer prova
de possibilidade
de satisfatória redenção.

Mortalmente tentado
a seguir um caminho
descendo aos infernos
que gelam os mortais corações
dos vulgares ladrões
das nobres emoções
que pululam
por este mundo infecto
e tentam cravar
suas nojentas ventosas
nas carnes leitosas
das virgens que choram
à beira do desespero pleno
da vergonha opressora
dos seus estatutos.

Cortando as suas vias
e tentando exprimir
em palavras vazias
um mundo inteiro
na ponta de uma caneta
que está gasta
e que não mais comportará
outros semelhantes
afluxos mais brilhantes
de negro fel.

[Como complemento a este texto, também da minha autoria.]

abril 09, 2005

Um leve acordar

Sinto em meu redor
O ressurgir de um silêncio
Tão interiormente apetecido
Que facilmente se torna acolhido

Cautelosamente, ele me toma,
Envolve-me em calmas sombras
E cobre meu triste ser
Num manto de solidão
Para me tentar aquecer

Tudo o que quero
É este mundo esquecer
Pois já me causou demasiado sofrer
Neste longo tempo
Em que pensei estar a viver

Não quero mais gritar.
Não quero mais chorar.
Minha dor vou abraçar,
Esperar que meus sonhos me guiem
Para o mais belo lugar.

Só, eu permaneço
Neste doce e viciante silêncio
Que temo sempre quebrar
Ao mais pequeno movimento
Instigado por um sofrido lamento

Está ainda uma vela acesa
Com sua chama tremeluzente
Que lembra o desespero que se sente
Quando a luz tentamos alcançar
Sem nunca sequer a conseguirmos tocar.

E a luz apaga-se...

Vêem-se leves desenhos de fumo
Que depressa se misturam
Com o ar de negras brumas.
E devoram-me, então,
Os pensamentos num turbilhão.

As vozes na minha mente
Rasgam o frágil silêncio.
Oh, calma preciosa,
Foste agora dilacerada
Por uma mente renegada...

Sinto minhas mãos
Cobrirem meus ouvidos,
Em vão...
Pois é dentro de mim que elas estão
Tentando apunhalar meu coração

Já não consigo viver
Uma vida sem emoção.
Quero lutar,
Para não mais rastejar
Na lama dos teus pecados

Sinto-as invadir meus olhos,
Turvar minha visão,
Humedecer minha face
Como se de um rio se tratasse.
Eis as minhas solitárias lágrimas

Algo toca minha mão
Com uma suavidade sem expressão
E eis que ele regressa
Deixando-me expectante
Para o que me rodeia.

Doces palavras surgem
Como doces beijos.
Sussurros de amor
Que com paz e esplendor
Acalmam minha dor

Procuro,
Mas nada vejo.
As sombras não me permitem a visão
De quem abraça meu corpo
Para me proteger da escuridão

Sinto-te comigo,
Sinto-te em mim.
Estás comigo, mas não aqui.
És tu um anjo
Que me envolve em suave encanto?

Deixa-me ouvir tua voz
Tão preenchida de harmonia
Que me prende numa melodia
Que anseio escutar a cada manhã,
Agora, hoje, amanhã...

Regresso à calma.
Pensava eu que ela,
Alegre e sedutora,
Do silêncio era detentora,
Mas eu estava enganada.

Deixa-me tocar tua mão,
Beijá-la,
Acariciá-la,
Para que possas sentir o calor
Da minha devoção.

A ti devo a alegria,
Pois sem ti estaria ainda perdida
Na minha triste mentira,
Escondida na máscara perdida
Por mim construída

Quero voltar a sorrir,
Ver as nuvens partir,
E não mais voltar a sentir
O corroer do meu mundo
Que escondia em segredo absoluto.

Beija-me, belo anjo,
Deixa-me sentir tua doçura,
Tua ternura.
Quero sentir o sabor
De um beijo de amor

Ensina-me a viver
Os anos que senti perder
Escondida no meu sofrer
Em que me limitava à cegueira
Que minh’alma ainda queima.

Finalmente anseio abraçar
A luz que pela janela quer espreitar.
Apesar de não a conseguir tocar
Sei que pelo menos vou tentar
Minha vida mudar

Não te quero ver partir,
Não quero tua vida decidir,
Peço-te, apenas,
Que partilhes comigo a noite
Dançando sob as estrelas...

abril 03, 2005

Fugaz momento

Ridiculamente procuro perseguir
as pegadas que deixas no ar
e tentar de todas as formas sentir
o aroma que se está a dissipar.
Todas as feridas que tenho em mim
conseguem abrandar a sua insistente latência
para me permitir uma dormência
de palavras abençoada.

Instintivamente procuro
as linhas que separam os nossos corpos
e na fusão da carne,
acto impossível da ilusão da mente,
encontro uma realidade finalmente conseguida.

Roço o meu corpo no teu
e tento ver se existes.
Soubesse eu quem és
e veria também se a mim resistes.
Sou sombra manchada de luz,
sou aquele que à loucura conduz,
sou um desejo que se tem à noite,
sou aquele que caminha ao lado da foice
e que olha, circunspecto,
vendo as linhas do desejo
que se desenham nas mentes etéreas
das almas concupiscentes
cujas grilhetas férreas
as têm dominadas.

Se o bater do relógio
te não engana,
soam as horas
de entrares na cama.
De te fazeres carne e sangue,
desejo e carência;
que te preencham
todos quantos queiras
na minha ausência.
Sinto a tua dependência
mesmo nas letras das cartas
e no perfume que derramas
sobre promessas insanas
de um amor eternamente condenado.

Depois, a pequena morte.

março 26, 2005

Anjo demolidor

Ó, Anjo Negro
Cujas asas voam alto
Minha voz clama o teu nome
Tão cheia da dor de quem sofre

Este fogo que me devora
Corrompe minh’alma
Iluminando meus sonhos
Ardendo-me a realidade

O Passado que ja não lembra...
O Presente que já não se sente...
E o Futuro sem esperança...
Aos olhos de quem vê

Ó, Anjo da Morte,
Possa tua luz evanescente
Trazer morte ao sofrimento
E, com isso, apagar-nos a todos

No amor encontramos a dor,
E é a dor, e não o amor,
Que nos faz sentir vivos
E tão agarrados ao triste mundo que nos acolhe

A tristeza que cobre os meus olhos...
Vencida após a luta
Perdendo a força a cada passo,
Perdendo a cada passo o desejo...

Oh!, possam teus braços acolher-me
Num enlace frio...sem vida...
Possa o teu negro manto cobrir-me
Envolvendo-me na escuridão

Que as tuas asas me levem tão longe
Onde a perdição é tudo...e nada...
Onde a salvação já não existe
E o corpo já não sente

Fugir de tudo o que me rodeia
Quebrar o inquebrável
Ver o que não se vê
E em teus braços desfalecer

Não sei quem sou
Nem sequer o que sou
A inocência perdida que a paz roubou
Deixou-me em delírio quando passou.

Ó, Anjo Negro,
Meus lábios clamam teu nome
Em murmúrios que não se ouvem...
Apenas se sentem...
Só alguns me podem ouvir...
Só alguns me podem ver...
E o sofrimento que me devora...
Ninguém o pode crer

As palavras que não se soltam
Elevam-se tão alto sem som,
Que gritam na minha mente
E descontrolam a minha sanidade

Não me ouves, Anjo Negro?
Teus braços não me acolhem,
Teu manto não me cobre
E os teus olhos não me vêem

Não ha salvação na escuridão
E o teu rosto tão negro quanto a tua vida
Acorda os que não vivem,
Que se movem apenas para respirar...

Desespero
Sem rumo eu caminho...
Perdida neste inferno que é amar...
E no qual sempre viverei

Meu Anjo Dourado,
Leva as minhas lágrimas
Leva o meu sangue
Leva a minha vida!

Traz de volta a inocência
O olhar da pureza
Deixa-me descansar...
Enquanto eu espero..e desespero...

Espero por ti meu Anjo Negro...
Tu que carregas meu destino.
Agora posso aliviar teu fardo...
Agora que me alio a ti...

março 18, 2005

Gota alguma

Querias que eu chorasse
mil lágrimas de sofrimento por ti
e que te alimentasse
esse ego superlativo.
Querias que a chuva
se misturasse
com as minhas lágrimas.
Querias que eu lavasse
o teu sofrimento
nas minhas lágrimas
a escorrer pela minha
dorida fronte.

Querias? Sim...
Sei-o tão bem...!
Não...
Não terás o meu sofrimento
por muito que o queiras:
não será o sangue das minhas feridas
o teu unguento,
panaceia universal que tudo pode
contra todo o mal que a carne te morde.

março 08, 2005

Amor sentido

Amo.
A quem?...Não o sei
Amo-te a ti
Tu que fazes parte de mim.

Amo um ser
Amo um mundo
Amo um momento
Para além da realidade

Amei-te outrora
Quando me ouvias
Quando me sentias
E com doces palavras “Amo-te” me dizias...

Mas esse tempo passou
E esse tempo me levou
Para um mundo que não conhecia
No qual a luz não provém só do dia

Noite e dia em sintonia
E entre estrelas e claridade
Eu te lembro com saudade
Assim como a forma que de ti me despedia

Tão longe meu corpo te sentia
Tão perto meu coração te trazia
Enquanto eu me perdia
Na felicidade que apenas teu nome permitia

Quero-te aqui comigo
Quero contigo fazer sentido
Fugir da fantasia
Trazendo-a à vida

Por ti eu grito
Por ti eu corro
Por ti eu sofro
Mas tu não sabes quem sou...

Já não sou a tua princesa
Que a tua chama mantia acesa
Já não sou aquela...
Aquela que costumavas amar

Mas sem ti não quero ficar
Tuas memórias vou guardar
E a todas as estrelas vou desejar
Que um dia para mim possas voltar...

março 01, 2005

Troca

Trocaste as minhas palavras
pelo som rumorejado lento
das cataratas do silêncio
que se entranha na alma
como narcótico que te acalma.

Disseste-te ferida pelas coisas
que te disse quando te feriste
e mostraste-te ofendida
pelas verdades que viste.
Trocaste então a vivência
em verdade vivida
pela decadência
da sombria mente comum esquecida.

Quiseste afastar-me;
colocaste espinhos na minha mão
e fizeste-me acariciar
a minha prórpia face,
ficando tu em júbilo
pela dor que a cega confiança provocara.
Traiste a verdade em que vivia
porque te julgaste aviltada
pela palavra alterada
de uma sonolência dormente de ilusão
para a realidade da situação.

Irias mais longe
e farias mais
se por fim eu não me rendesse
e substituísse
a inocência da nossa união
pela doce depravação
da eterna e dolorosa separação.

Iluminando teus passos me destruiste,
p'la minha escuridão cairás.

fevereiro 26, 2005

Longe da alegria

Ruído ensurdecedor
De um silêncio destruído
Pelas mãos daquele cuja vida
Não se guia por uma melodia

Longe de ti eu procurei vida
Longe de mim eu me encontrei perdida
Longe da terra esquecida
Longe da terra de fantasia

O Luar reflectido no rio
Cujo brilho se confunde com as estrelas
Em que a esperança solitária
Chora as lágrimas da noite

Som da chuva;
Frio de um Inverno cinzento
Que com sua agonia e tormento
Lamenta a luz do dia

Sozinha lá estou...
Essência sem brilho
Num corpo deambulante
Sem lugar na realidade

Sem forças luto
Talvez por um regresso à vida
Em que tudo era belo
E tudo era inocente

Infância perdida
Nas cavernas da tristeza
Perdida na procura
Da presença da incerteza...

fevereiro 22, 2005

Sentido único

Cortam a minha vida
como se fosse um azedo limão
procurando que eu seja
bode expiatório
das quezílias mesquinhas
que sofrem a mãos de outrem.

Tentam manchar a pouca luz
que entra ainda na minha alma
como se fosse crime desperdiçá-la
em quem tenta ainda sobreviver.

Afiam as garras na minha pele
quase como se eu fosse de pedra
para poderem melhores golpes desferir
na minha carne ensanguentada.

Ainda não vos disse quem sou
e já me dizem quem sou;
ainda não pronunciei palavra
e parece que discursei
algo da minha lavra.
A carta em branco e não endossada
já foi por vós
aparentemente fechada e lacrada.

Apresentam-me o meu destino
como caminho inevitável
e esperam que o siga
com fé inabalável
nas tortuosas concepções
de normalidade e ilusões
com as quais se alimentam
- o veneno que vos corre nas veias.

Voltar ao estado
da mais pura inocência
seria para mim
maior traição
que a indolência insana
que é agora minha prisão.

Matem-me...
Ou tentem.
Quem consegue matar
quem morreu já
às mãos de iguais algozes
com iguais perícias ferozes?

A minha vingança,
não a vêem vós;
outros de outra luz a verão
e compreenderão
que não há salvação
na rejeição
da humana Razão
casada com o nobre coração.
Vós sois o meu estrume,
a nojenta substância
que faz crescer na noite
uma nova instância
de pensamento e fortitude.
I shall feast upon thee,
cruel executioners!

["I still remember the world
From the eyes of a child
Slowly those feelings
Were clouded by what I know now"
- Field of Innocence, Evanescence
... e a verdade é que não há retorno.]

fevereiro 20, 2005

A minha realidade

Quero chorar
Mas chorar já não consigo
Quero gritar
Mas meus gritos jamais serão ouvidos
Até aquilo que chamo inspiração
Parece fugir-me da mão.

Quero-me libertar
Mas fugir não consigo
Quero falar
Mas ninguém escuta o que digo..
E o meu frio coração
Chora sem emoção.

Traí eu a vida?
Porque a sinto eu corrompida?
Até este mundo inanimado
Me parece um teatro sofisticado
Onde a mentira
Mantém a tristeza colorida.

O calor não me aquece
O frio não me arrefece
Mas a dor...
Com todo o seu poder
De me fazer arder
Me minimiza ao horror.

Os caminhos a percorrer
Já não os consigo ver
E continuo a deambular
Sem ninguém para me guiar
Nem sequer para me aliviar
Do nada que me está a atormentar.

Quero tudo partir
Quero minha vida destruir
Quero voltar a sorrir
Com a verdade merecida
Nesta luta sofrida
Na realidade mentida.

Que fiz eu...
Para te ver chorar?
Que fiz eu...
Para agora te amar?
Que fiz eu...
Para minh’alma se despedaçar?

A colorida infância
Não passa de uma lembrança
De tempos idos
E agora sofridos
Em que o desejo de salvação
É abafado pela doce solidão.

A luz
Não me seduz
Mas a Lua...
Ter-me-á sempre sua...
A eterna amante
Da tristeza deambulante.

O meu mundo de fantasia
Que alegre me mantinha
Já não satisfaz meu ser...
Pois continuo a arder
Por detrás desta máscara
Que cada dia faço minha

Aquilo que procuro
Perdeu-se no escuro
E a melodia tocada docemente
Diluíu-se na obscuridade
No momento em que a vida
Para o silêncio caminha...

fevereiro 19, 2005

Nota de Edição

O "De Pena em Riste" deseja as boas-vindas a mais um autor: a poetisa Sianna junta-se agora a nós, sendo que brevemente será publicado um poema seu.

Entretanto, relembramos que apreciamos o maior número de comentários dos nossos leitores. Obrigado.

Kurotenshi e Prometeu

fevereiro 15, 2005

Evanescência

Cadentes estrelas
que ditam sortes
e verdades perenes
que alma alguma concebe.
Irados astros
que riscam o firmamento
e morrem num tormento
de calor e chamas.

Retrocede e olha
para as obras que semeaste;
se o vento as não levou
verás que não reconhecem
que as criaste.
Fortaleces a tua projecção
com a menção
a projectos, ideias e nomes
que mais tarde serão
conceitos anónimos
conhecidos por si mesmos sem ti.

Deixas uma pegada na areia
que se desvanece por razões mil:
sopra o vento e tomba a onda
e logo se apaga a marca
de que estiveste ali.

Existências diluídas
por Chronos destruídas
são o que resta
da pútrida aliança
que a carne faz com a Vida
no breve instante
de (in)sanidade errante
que tão carinhosamente prezamos.

fevereiro 13, 2005

Nota de Edição

Acompanhando os novos desenvolvimentos do Blogger, os comentários agora funcionam em sistema de janela pop-up, tornando-se assim mais fácil comentar e dispensando de todo qualquer inscrição no site (situação que já anteriormente não era necessária). Esperamos que isto sirva para aumentar o número de comentários efectuados, sendo que os agradecemos, desde que construtivos e organizados.

Obrigado.

Kurotenshi e Prometeu.

fevereiro 08, 2005

Falhar

Tentaste.
Eu sei que tentaste.
Esgravataste
o solo ao meu redor
tentando arracar-me do torpor
em que me tinham lançado
ao me porem de lado,
quase que arquivado
em poeirenta
arrecadação da memória.

Falhaste.
Ao tentares alcançar minha mão
não conseguiste enviar
suficiente emoção
para me fazer crer
no verbo "amar".

Conquistaste tudo.
Ganhaste a todos
em beleza e poder,
triunfaste sobre anátemas sem fim
mas não conseguiste tocar
a criatura em negro tecido enrolada
que sempre malfadada
suspirava pela última morada.

O meu último suspiro
ficará para sempre na tua mente
e será a sombra demente
do teu adormecer;
crerás que conspiro
para além do mundo vivo,
em tentativa de te endoidecer.
Mas não...
Foste tu que falhaste
mas também eu estava longe,
para além da compreensão
e nem tua luz fulgurante
conseguiu romper a prisão
da minha alma errante
em eterna punição.

fevereiro 03, 2005

A luz que não brilha

Sinto tuas mãos
a esgravatar no silêncio
conspurcado da minha alma
que em vão tenta silenciar-te.

Uivo ao luar
para me fazer notar
como monstro facínora
que devorará quem se aproximar,
qual amante da carnificina.

Põe tuas mãos sedosas em mim,
tenta amansar a besta;
morder-te-ei os dedos,
assombrarei a vida dos teus
e terás em conta que a traição
de em quem se confia
é mais sangrenta
que aquela que se atenta
contra desconhecida sombra lenta.

Sopras as tuas palavras
tentando acalmar minha alma,
esquecendo quem sou,
que todas as palavras me magoam
e que só o silêncio
- suspensão voluntária
da humanidade em mim precária -
consegue acalmar o fel
que escorre da minha boca
ruminado pelo maldito
e vomitado para o infinito.

Fere-me com as tuas carícias!
Recusa-te a perceber quem sou!
Mostra-me a tua compreensão!
Quem aos danados mostra salvação
não tem resposta que não seja o ódio
da vida que jamais alcançarão.

janeiro 30, 2005

Excedente

Se pudesses olhar,
verias que eu estou caído.
Se pudesses escutar,
verias que choro sangue.
Se pudesses tocar,
sentirias a minha carne putrefacta.
Se pudesses cheirar,
saberias o aroma da Morte.
Se pudesses saborear,
eram lágrimas que beberias.

Insistes em ficar longe,
longe dos sentidos;
insistes em controlar a vontade
que tens de me sentir
perto de ti
e de me enrolar
no manto da noite fria
para te consolar as mágoas
de quem te não queria.

Fica então.
Morro eu
mas morrerás tu também
e no fim o que ficar
será para alimentar
a Terra Mãe.

janeiro 27, 2005

Condição humana

Caem gotas de água
como navalhas afiadas.
Caem vidas em mágoa
pelas penas suportadas.

O grito primevo
que ao Homem deu essência
foi coisa de pouco relevo
feita com imprudência.
A chama que lhe aqueceu a alma,
de animalesca não passou;
O sopro que lhe insuflou o peito
era sopro fero de furação.

Ao estender a mão, olha para cima.
Verás sobre ti a ígnea presença
que tudo anima
mas que sem condolência
te fere e oprime a essência.

Se odiar o dia
é amar a noite,
amar a noite é amar a vida.
A vida sangrenta
que escorre fel
das feridas tapadas com mel
envenenado.