abril 03, 2005

Fugaz momento

Ridiculamente procuro perseguir
as pegadas que deixas no ar
e tentar de todas as formas sentir
o aroma que se está a dissipar.
Todas as feridas que tenho em mim
conseguem abrandar a sua insistente latência
para me permitir uma dormência
de palavras abençoada.

Instintivamente procuro
as linhas que separam os nossos corpos
e na fusão da carne,
acto impossível da ilusão da mente,
encontro uma realidade finalmente conseguida.

Roço o meu corpo no teu
e tento ver se existes.
Soubesse eu quem és
e veria também se a mim resistes.
Sou sombra manchada de luz,
sou aquele que à loucura conduz,
sou um desejo que se tem à noite,
sou aquele que caminha ao lado da foice
e que olha, circunspecto,
vendo as linhas do desejo
que se desenham nas mentes etéreas
das almas concupiscentes
cujas grilhetas férreas
as têm dominadas.

Se o bater do relógio
te não engana,
soam as horas
de entrares na cama.
De te fazeres carne e sangue,
desejo e carência;
que te preencham
todos quantos queiras
na minha ausência.
Sinto a tua dependência
mesmo nas letras das cartas
e no perfume que derramas
sobre promessas insanas
de um amor eternamente condenado.

Depois, a pequena morte.

5 Comments:

Blogger Sophia said...

A beleza das tuas palavras conseguiu, como sempre, deixar-me a mim sem elas... E, também como sempre, um nó na garganta, um sorriso indeciso, uma admiração sem limites na alma... Uma vez mais, obrigado por compartilhares connosco esta beleza.

9:31 da tarde  
Blogger Marta said...

Fugaz momento...falas em dependência...momentos em que nos consumimos numa voragem de desejo, em que suprimos carências, o roçar dos corpos numa fusão de luz, luxúria e amor. Os corpos a tocarem-se na tentativa de permanecerem gravados infinitamente uns nos outros e o relógiod a vida a passar. Ficam as lembranças..desses fugazes momentos tao intensos que permanecem vivos nas labaredas da memória.

10:06 da tarde  
Blogger Fátima said...

momentos de intensidade surreal, de fruição de uma paixão que explode no desejo carnal, que procura desesperada e loucamente o toque, que vive quando dois corpos se unem e partilham sensações...

Um poema de grande qualidade e veracidade também. (Claro... (=) Parabéns e continua!!!

6:14 da manhã  
Blogger Daniel Cardoso said...

Obrigado pelas vossas palavras, que me incentivam a continuar.

Prometeu

12:00 da tarde  
Blogger Domë Earendil said...

Não sei se já to disse, mas a maneira cmo escreves deixa-me babado..Só tu sabes dar-nos as palavras que não encontramos, graças à maneira simples como nos identificamos com elas...Continua assim, mano!

Tu Rockas!
"Eh, man..este tabaco élfico é demais!!"=P

1:56 da tarde  

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