março 26, 2005

Anjo demolidor

Ó, Anjo Negro
Cujas asas voam alto
Minha voz clama o teu nome
Tão cheia da dor de quem sofre

Este fogo que me devora
Corrompe minh’alma
Iluminando meus sonhos
Ardendo-me a realidade

O Passado que ja não lembra...
O Presente que já não se sente...
E o Futuro sem esperança...
Aos olhos de quem vê

Ó, Anjo da Morte,
Possa tua luz evanescente
Trazer morte ao sofrimento
E, com isso, apagar-nos a todos

No amor encontramos a dor,
E é a dor, e não o amor,
Que nos faz sentir vivos
E tão agarrados ao triste mundo que nos acolhe

A tristeza que cobre os meus olhos...
Vencida após a luta
Perdendo a força a cada passo,
Perdendo a cada passo o desejo...

Oh!, possam teus braços acolher-me
Num enlace frio...sem vida...
Possa o teu negro manto cobrir-me
Envolvendo-me na escuridão

Que as tuas asas me levem tão longe
Onde a perdição é tudo...e nada...
Onde a salvação já não existe
E o corpo já não sente

Fugir de tudo o que me rodeia
Quebrar o inquebrável
Ver o que não se vê
E em teus braços desfalecer

Não sei quem sou
Nem sequer o que sou
A inocência perdida que a paz roubou
Deixou-me em delírio quando passou.

Ó, Anjo Negro,
Meus lábios clamam teu nome
Em murmúrios que não se ouvem...
Apenas se sentem...
Só alguns me podem ouvir...
Só alguns me podem ver...
E o sofrimento que me devora...
Ninguém o pode crer

As palavras que não se soltam
Elevam-se tão alto sem som,
Que gritam na minha mente
E descontrolam a minha sanidade

Não me ouves, Anjo Negro?
Teus braços não me acolhem,
Teu manto não me cobre
E os teus olhos não me vêem

Não ha salvação na escuridão
E o teu rosto tão negro quanto a tua vida
Acorda os que não vivem,
Que se movem apenas para respirar...

Desespero
Sem rumo eu caminho...
Perdida neste inferno que é amar...
E no qual sempre viverei

Meu Anjo Dourado,
Leva as minhas lágrimas
Leva o meu sangue
Leva a minha vida!

Traz de volta a inocência
O olhar da pureza
Deixa-me descansar...
Enquanto eu espero..e desespero...

Espero por ti meu Anjo Negro...
Tu que carregas meu destino.
Agora posso aliviar teu fardo...
Agora que me alio a ti...

março 18, 2005

Gota alguma

Querias que eu chorasse
mil lágrimas de sofrimento por ti
e que te alimentasse
esse ego superlativo.
Querias que a chuva
se misturasse
com as minhas lágrimas.
Querias que eu lavasse
o teu sofrimento
nas minhas lágrimas
a escorrer pela minha
dorida fronte.

Querias? Sim...
Sei-o tão bem...!
Não...
Não terás o meu sofrimento
por muito que o queiras:
não será o sangue das minhas feridas
o teu unguento,
panaceia universal que tudo pode
contra todo o mal que a carne te morde.

março 08, 2005

Amor sentido

Amo.
A quem?...Não o sei
Amo-te a ti
Tu que fazes parte de mim.

Amo um ser
Amo um mundo
Amo um momento
Para além da realidade

Amei-te outrora
Quando me ouvias
Quando me sentias
E com doces palavras “Amo-te” me dizias...

Mas esse tempo passou
E esse tempo me levou
Para um mundo que não conhecia
No qual a luz não provém só do dia

Noite e dia em sintonia
E entre estrelas e claridade
Eu te lembro com saudade
Assim como a forma que de ti me despedia

Tão longe meu corpo te sentia
Tão perto meu coração te trazia
Enquanto eu me perdia
Na felicidade que apenas teu nome permitia

Quero-te aqui comigo
Quero contigo fazer sentido
Fugir da fantasia
Trazendo-a à vida

Por ti eu grito
Por ti eu corro
Por ti eu sofro
Mas tu não sabes quem sou...

Já não sou a tua princesa
Que a tua chama mantia acesa
Já não sou aquela...
Aquela que costumavas amar

Mas sem ti não quero ficar
Tuas memórias vou guardar
E a todas as estrelas vou desejar
Que um dia para mim possas voltar...

março 01, 2005

Troca

Trocaste as minhas palavras
pelo som rumorejado lento
das cataratas do silêncio
que se entranha na alma
como narcótico que te acalma.

Disseste-te ferida pelas coisas
que te disse quando te feriste
e mostraste-te ofendida
pelas verdades que viste.
Trocaste então a vivência
em verdade vivida
pela decadência
da sombria mente comum esquecida.

Quiseste afastar-me;
colocaste espinhos na minha mão
e fizeste-me acariciar
a minha prórpia face,
ficando tu em júbilo
pela dor que a cega confiança provocara.
Traiste a verdade em que vivia
porque te julgaste aviltada
pela palavra alterada
de uma sonolência dormente de ilusão
para a realidade da situação.

Irias mais longe
e farias mais
se por fim eu não me rendesse
e substituísse
a inocência da nossa união
pela doce depravação
da eterna e dolorosa separação.

Iluminando teus passos me destruiste,
p'la minha escuridão cairás.