abril 09, 2005

Um leve acordar

Sinto em meu redor
O ressurgir de um silêncio
Tão interiormente apetecido
Que facilmente se torna acolhido

Cautelosamente, ele me toma,
Envolve-me em calmas sombras
E cobre meu triste ser
Num manto de solidão
Para me tentar aquecer

Tudo o que quero
É este mundo esquecer
Pois já me causou demasiado sofrer
Neste longo tempo
Em que pensei estar a viver

Não quero mais gritar.
Não quero mais chorar.
Minha dor vou abraçar,
Esperar que meus sonhos me guiem
Para o mais belo lugar.

Só, eu permaneço
Neste doce e viciante silêncio
Que temo sempre quebrar
Ao mais pequeno movimento
Instigado por um sofrido lamento

Está ainda uma vela acesa
Com sua chama tremeluzente
Que lembra o desespero que se sente
Quando a luz tentamos alcançar
Sem nunca sequer a conseguirmos tocar.

E a luz apaga-se...

Vêem-se leves desenhos de fumo
Que depressa se misturam
Com o ar de negras brumas.
E devoram-me, então,
Os pensamentos num turbilhão.

As vozes na minha mente
Rasgam o frágil silêncio.
Oh, calma preciosa,
Foste agora dilacerada
Por uma mente renegada...

Sinto minhas mãos
Cobrirem meus ouvidos,
Em vão...
Pois é dentro de mim que elas estão
Tentando apunhalar meu coração

Já não consigo viver
Uma vida sem emoção.
Quero lutar,
Para não mais rastejar
Na lama dos teus pecados

Sinto-as invadir meus olhos,
Turvar minha visão,
Humedecer minha face
Como se de um rio se tratasse.
Eis as minhas solitárias lágrimas

Algo toca minha mão
Com uma suavidade sem expressão
E eis que ele regressa
Deixando-me expectante
Para o que me rodeia.

Doces palavras surgem
Como doces beijos.
Sussurros de amor
Que com paz e esplendor
Acalmam minha dor

Procuro,
Mas nada vejo.
As sombras não me permitem a visão
De quem abraça meu corpo
Para me proteger da escuridão

Sinto-te comigo,
Sinto-te em mim.
Estás comigo, mas não aqui.
És tu um anjo
Que me envolve em suave encanto?

Deixa-me ouvir tua voz
Tão preenchida de harmonia
Que me prende numa melodia
Que anseio escutar a cada manhã,
Agora, hoje, amanhã...

Regresso à calma.
Pensava eu que ela,
Alegre e sedutora,
Do silêncio era detentora,
Mas eu estava enganada.

Deixa-me tocar tua mão,
Beijá-la,
Acariciá-la,
Para que possas sentir o calor
Da minha devoção.

A ti devo a alegria,
Pois sem ti estaria ainda perdida
Na minha triste mentira,
Escondida na máscara perdida
Por mim construída

Quero voltar a sorrir,
Ver as nuvens partir,
E não mais voltar a sentir
O corroer do meu mundo
Que escondia em segredo absoluto.

Beija-me, belo anjo,
Deixa-me sentir tua doçura,
Tua ternura.
Quero sentir o sabor
De um beijo de amor

Ensina-me a viver
Os anos que senti perder
Escondida no meu sofrer
Em que me limitava à cegueira
Que minh’alma ainda queima.

Finalmente anseio abraçar
A luz que pela janela quer espreitar.
Apesar de não a conseguir tocar
Sei que pelo menos vou tentar
Minha vida mudar

Não te quero ver partir,
Não quero tua vida decidir,
Peço-te, apenas,
Que partilhes comigo a noite
Dançando sob as estrelas...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

como eu compreendo esse sentimento de desespero mortal k nos delicera alma... e como eu sei tambem que existem anjos que nos salvam e nos amam...
um poema especialmente tocante para mim.
continua o bom trabalho Sianna

8:54 da tarde  

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